Maria João Seixas: "Era um dos seminais do Novo Cinema Português"
"Estou particularmente triste. Foi um ano muito madrasto para o cinema português", comentou, em declarações à agência Lusa, referindo-se ainda ao desaparecimento, também este ano, em maio, do cineasta Fernando Lopes, com 76 anos.
Paulo Rocha estava internado num hospital privado na zona do Porto, cidade onde nasceu a 22 de dezembro de 1935, e faleceu hoje de manhã.
"Ele abriu as portas, o olhar, o modo de nos olharmos e registarmos em imagens em movimento, o que somos, o que sonhamos ser, o que queremos ser", disse a diretora da Cinemateca Portuguesa sobre o realizador que ficou conhecido sobretudo pelos filmes "Verdes Anos" (1963) e "Mudar de Vida" (1966), considerados marcos do chamado "Novo Cinema Português".
"Temos a sorte de ficarmos com um legado precioso. Assim o saibamos conservar, preservar, e ver", referiu a responsável, acrescentando que todas as sessões de cinema que se realizarem hoje na Cinemateca serão dedicadas a Paulo Rocha.
A responsável indicou ainda que irá preparar "uma homenagem especial" ao cineasta, que também assinou filmes como "A Pousada das Chagas" (1972), "A Ilha dos Amores" (1982), "A Ilha de Amorais" (1984), "O Desejado" (1988), "Máscara de Aço Contra Abismo Azul" (1989), "O Rio do Ouro" (1998), "A Raiz do Coração" (2000), "As Sereias" (2001) e "Vanitas" (2004).
"Quando o Fernando Lopes faleceu, o Paulo Rocha, que já estava muito doente, escreveu, pelo seu próprio punho, uma mensagem maravilhosa. Foi a mais comovente de todas", recordou Maria João Seixas sobre a forte ligação dos dois cineastas, emblemáticos representantes do cinema português.
Paulo Rocha assinou também dois ensaios fílmicos consagrados a Manoel de Oliveira e a Shohei Imamura, integrados na famosa série "Cinéastes de Notre Temps".
Depois de uma passagem pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, partiu para França, onde estudou cinema no Institut des Hautes Études Cinématographiques e obteve um diploma de realização.
Foi assistente do francês Jean Renoir em "Le Caporal Épinglé" (1962) e do português Manoel Oliveira no "Ato da Primavera" (1963) e em "A Caça" (1964).
"Ficamos seguramente mais pobres, menos iluminados, com menos luz à nossa volta", com o desaparecimento de Paulo Rocha, cuja obra, aconselhou Maria João Seixas, "deve ser vista por quem não conhece".
A responsável salientou ainda que a obra de Paulo Rocha influenciou várias gerações de realizadores portugueses, e deu o exemplo de dois dos mais jovens: João Salaviza, que assinou "Rafa", e Miguel Gomes, o realizador de "Tabu", ambos premiados internacionalmente.
"A singularidade do cinema português é muito grande e é muito especial e tem contribuído para elevar Portugal no mundo", vincou a diretora da Cinemateca.